Estudantes das escolas públicas do município e do Distrito de Jurucê, de 5° ano do Ensino Fundamental ao 3° do Ensino Médio, participaram da 5ª edição da Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro e produziram, sob orientação de seus Professores, textos em diferentes gêneros textuais, abordando o tema “O Lugar Onde Vivo”. A reflexão sobre esse assunto propicia aos alunos estreitar vínculos com a comunidade e aprofundar o conhecimento sobre a realidade, contribuindo para o desenvolvimento de sua cidadania.
Iniciativa do Ministério da Educação e da Fundação Itaú Social, com coordenação técnica do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec), o evento, realizado a cada dois anos, pretende estimular a competência escritora dos estudantes por meio de uma proposta de realização de oficinas de escrita em que se visa compreender a função social dos gêneros textuais.
Estudantes de 5° e 6° anos do Ensino Fundamental desenvolveram o tema em forma de “Poema”; os de 7° e 8° anos, foram estimulados a escrever “Memórias Literárias”; alunos do último ano do Ensino Fundamental e do primeiro do Ensino Médio, se debruçaram sobre a “Crônica” e, os de 2° e 3° anos do Ensino Médio, produziram “Artigo de Opinião”.
A Secretaria Municipal de Educação agradece a participação e a dedicação dos estudantes, Professores e todos os envolvidos das Escolas Municipais “Ilha Grande”, “Profª Edda Saud Reis”, “Américo Salles Oliveira”, “Profª Nair Saud Conti”, “Elza Rosalina Bonetti Pegoraro” e da Escola Estadual “Dr. Mário Lins”.
Publicamos abaixo o texto selecionado para a etapa estadual, na categoria “Poema”.
A felicidade mora na simplicidade
No lugar onde eu vivo
Tem a Cidade das Crianças,
Onde podemos nos divertir
E compartilhar a nossa esperança.
Tem também a nossa festa,
Do Senhor Bom Jesus da Lapa:
A região inteira vem
E a festa nunca acaba.
Por incrível que pareça
Tem até um disco-voador,
Criado por um prefeito
Que era muito inovador.
Para os mais radicais,
Uma pista de skate foi criada;
É cada tombo que se vê!
Caio sempre na risada.
Aqui na cidade da manga
Vivemos felizes, na simplicidade.
Desejamos essa mesma paz
A toda a humanidade.
Jhemerson da Silva Souza
EMEF “Ilha Grande” - Prof. Leandro Lino Gonçalves Rodrigues
LEMBRANÇAS DE MINHA NAVE
Meus pés estavam acorrentados!
Era assim que me sentia quando adentrava a Avenida Belarmino Pereira de Oliveira: eu queria chegar logo, mas não; os passos pesados não me deixavam ir ao meu brinquedo, o meu super brinquedo.
Devagar, bem lentamente, ao passar pelas calçadas pesadas, eu conseguia enxergar os raios de sol vívidos sobre o meio de transporte mais lindo da minha vida.
De repente, eu estava lá, sentado com minhas pernas estendidas e com minhas mãos à frente como se estivesse segurando o volante: estava a pilotar minha nave, um grande monumento em forma de disco-voador.
Eu era uma criança e não me importavam os comentários das pessoas que me viam brincar naquele lugar: eu só pensava na minha enorme nave. Nela viajava pelo espaço, entre meus pensamentos e sonhos infantis.
Só que, de repente, enquanto eu sonhava com os ETs e viajava pelo espaço sideral, ouvia uma voz que dizia:
- Desça daí e vamos embora, José!
Ah! Era a voz da minha bondosa avó. Não queria ir embora, pois a minha nave ficaria sozinha, sem ninguém para pilotá-la. Eu descia, tristemente tentava explicar o porquê de precisar ficar ali e perguntava:
- Vovó, deixe-me aqui? Preciso cuidar da minha nave, ela é muito especial. Daqui a pouco vou embora e tomarei cuidado.
Minha doce vovó sempre muito carinhosa comigo, deixava-me ficar por mais algum tempo e eu, com muita alegria, sorriso no rosto, subia novamente e continuava a voar em meus devaneios.
O disco-voador, que eu amo tanto, fica no meio de avenida movimentada aqui em Jardinópolis, na qual a todo instante se encontram carros furiosos e muitos pedestres.
Uma moça conhecida, que por ali passava, me viu brincando e disse:
- José, esta nave aí foi construída por um antigo prefeito que acreditava em ETs e sempre dizia que, quando alguém morresse, iria para outro mundo através do disco-voador; ou melhor, essa nave leva os mortos para outra vida!
Eu não fiquei com medo! Ouvi a moça, respirei fundo e... De repente ela diz:
- Já que você gosta tanto de nave espacial, quem sabe os extraterrestres virão te buscar?
Achei graça do que ela disse e balancei a cabeça afirmando que sim e continuei concentrado. A moça sorriu e foi embora.
Depois de um tempo, eu, com meu pequeno coraçãozinho entristecido, me despedi, abracei a minha nave, desci e fui para casa. No caminho, fui cabisbaixo, pensativo e chateado por ter deixado meu super brinquedo sozinho.
Tudo que aconteceu naquele dia, nunca irei esquecer: foram momentos grandiosos.
Hoje, já estou velho e doente, daqui algum tempo eu vou partir, mas espero confiante que, quando este dia chegar, eu, com minha nave, iremos encontrar o antigo prefeito que construiu o meu velho disco-voador.
Kauane Veloso dos Santos
EMEF “Profª Nair Saud Conti” -Profª Vanessa Ap. Ferreira Alves
MANGA, NOSSO TESOURO
Todo ano, quando as árvores florescem e os frutos começam a aparecer, meu coração se enche de esperança e orgulho.
Quando saio de casa rumo à escola, sigo olhando pelo caminho e apreciando as mangueiras que ainda restaram na chamada “terra da manga”.
De fato é a época de que mais gosto e também a que espero chegar com entusiasmo. Minha boca se enche d’água só de imaginar o gostinho especial que essas frutas trazem.
Podem ser apreciadas desde meio verdes com sal, até o ponto de estarem madurinhas. Hum, que delícia!
Além de ser um momento de degustação é também um momento de nos reunirmos com a família, pois aos domingos nos juntamos, meu pai, minha mãe, eu, meus primos, tios e tias (é tanta gente que chega a parecer uma enorme excursão!) e saímos à procura das frutas. Somos privilegiados por termos a condição de apanhar as mangas no pé.
Seguimos a pé, ora conversando, ora gritando com os que estão mais à frente, mas todos à procura do nosso grandioso tesouro.
Quando menos esperamos, nos deparamos com as mangueiras carregadas de frutos e com sombras enormes. Sempre levamos bambus altos, com redes nas pontas, para conseguirmos alcançar aquelas que estão no topo da árvore e então sentamos debaixo da árvore só aproveitando a sombra.
Lá nós rimos, brincamos, conversamos e, é claro, chupamos muitas mangas.
Com isso o dia vai passando e ficando em nossa memória. Quando nos damos conta, já está escurecendo, então “levantamos acampamento” e retornamos felizes para casa.
A sensação mais gostosa desse dia é poder relembrar dos maravilhosos momentos em família e assim dar graças e ter orgulho por morar nessa deliciosa cidade, que sempre tem algo a nos oferecer.
É com grande entusiasmo que aguardamos, todos os anos, essa época mágica, na qual as mangueiras carregadas alegram nossos quintais.
Rubiany de Moura Teixeira
EMEF “Profª Nair Saud Conti” – Profª Amanda Francisco da Silva Barberato
A pacata Jurucê
Jurucê, um pequeno distrito, envolto por plantações, pomares e vegetações diversas - o mais tranquilo lugar que se possa imaginar - teve seu sossego ameaçado repentinamente.
Distrito de Jardinópolis, a terra da manga, fica próximo à grande Ribeirão Preto. O pequeno distrito vive basicamente da agricultura, do comércio local e de algumas fábricas sediadas nas mediações, o que gera empregos tanto para os moradores de Jurucê como também de Jardinópolis.
O sossego da pacata cidade tem sido ameaçado há cerca de três anos com a construção e instalação de uma unidade do CPP (Centro de Progressão Penitenciária) na cidade. O projeto foi feito, aprovado e dado início sem ser feita nenhuma consulta prévia aos moradores.
Noticiários da época já apontavam uma grande insatisfação por parte da população. No dia da inauguração, 18 de setembro de 2013, a Prefeitura conseguiu uma liminar junto ao judiciário que impedia o funcionamento da unidade. Segundo reportagem da CBN Ribeirão, o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo decidiu em favor da Prefeitura: a liminar determinava que o funcionamento do CPP fosse impedido. Segundo a Justiça, o governo estadual deveria apresentar estudo de impacto ambiental, estudo de impacto de vizinhança, autorização do Ministério da Defesa e alvará municipal da obra.
O fato é que, mesmo com os protestos, o CPP está em funcionamento, e isso fez com que um grande receio se apoderasse dos moradores; um lugar como esse, calmo, silencioso e onde grande parte da população é idosa, não estava preparado para receber um presente de grego como esse.
Mas a insatisfação não é unânime, alguns defendem a presença do CPP na cidade, pois além de gerar novos empregos, traz certa visibilidade para a região e, consequentemente, mais policiamento e "segurança" para nossa região. Esta última, estamos esperando até hoje.
Por outro lado, as frequentes fugas e confrontos entre policiais e reeducandos fugitivos geram esse clima de medo na localidade. Agora, o até então pacato Distrito, dia a dia passa a ser conhecida como a receosa Jurucê.
Em minha opinião, deveriam, no mínimo, ter consultado os moradores para darem início ao projeto, pois aqui vivem muitas famílias antigas, acostumadas com o sossego, a não trancarem as portas, mesmo à noite, a andarem seguros (e não receosos) pelas ruas e calçadas.
Enfim, a instalação do CPP na cidade trouxe para um lugar de dois mil habitantes a preocupação de uma grande metrópole. Até quando será que teremos segurança, mesmo trancafiados em nossas casas?
Guilherme Amaral Marques
EE “Dr. Mário Lins” – Prof. Samuel Rodrigues Pinto